Carta do Gestor/Informativo Mensal Outubro de 2023
- Carta do gestor
- 16 de novembro de 2023
O mês de outubro de 2023 entrará para a história de maneira lamentável. Mais uma vez, presenciamos um ataque terrorista por parte do Hamas contra Israel, com incertezas sobre uma possível escalada de conflito no Oriente Médio. Esse evento sombrio se sobrepõe a um cenário financeiro já obscurecido, ampliando os riscos geopolíticos de maneira significativa.
Os últimos indicadores da economia dos Estados Unidos revelaram um robusto crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), evidenciando a resiliência do sistema econômico americano, mesmo diante do aumento das taxas de juros. Tal elevação causou uma aceleração nas taxas de longo prazo, com os títulos de 10 anos alcançando patamares de 5% ao ano. Para contextualizar, em 2021, essa taxa situava-se em 1,2% e, em 2022, aproximadamente em 2,6%. Atualmente, é possível encontrar títulos do Tesouro Americano (T-bills) com juros reais entre 2% e 2,5%, uma circunstância que repercute diretamente nas bolsas de valores, tornando-os ativos competitivos e atrativos. Além disso, essa situação reduz a liquidez em países emergentes que dependem de financiamento externo e cria uma competição com as taxas de juros oferecidas por outras nações.
A escalada das taxas de juros encontra justificativa, em parte, pelo vigor da atividade econômica, que mantém os juros estáveis por extensos períodos. Com a inflação girando em torno de 3,5%, distante da meta de 2%, o aumento da taxa dos títulos de 10 anos acaba sendo benéfico para o Federal Reserve (FED), pois contribui para o arrefecimento da economia sem que haja a necessidade de elevar a taxa de juros nas próximas reuniões até o término do ano. Outra questão pertinente é a situação fiscal dos Estados Unidos, que se mostra desafiadora. Caso as leis vigentes se mantenham, tanto os déficits orçamentários quanto a dívida federal tenderiam a crescer em proporção ao PIB nas próximas três décadas, conforme projeções do gabinete de orçamento do congresso. Segundo essas projeções, os déficits federais subiriam de 6% do PIB em 2023 para 10% em 2053. Tais déficits persistentes implicam em um aumento da dívida federal, já em patamares elevados, potencializando ainda mais a dívida detida pelo público, que poderia atingir 181% do PIB em 2053. Os gastos federais dos Estados Unidos estão previstos para crescer de 24% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 para 29% do PIB em 2053, enquanto as receitas federais teriam um aumento menos acentuado no mesmo período, passando de 18% para 19% do PIB. Esse desequilíbrio é um dos fatores que estão influenciando as taxas de juros atuais. Se essas previsões se confirmarem, poderemos presenciar instabilidades nos mercados financeiros com implicações graves. Portanto, é essencial monitorar atentamente esse cenário fiscal ao longo do tempo.
O Federal Reserve (FED) deverá anunciar a manutenção da taxa de juros na próxima reunião no início de novembro, uma vez que, apesar de ter havido um recuo, a inflação continua elevada e substancialmente acima da meta. A economia se mantém robusta, com um mercado de trabalho ainda restrito e o consumo dos cidadãos em alta, mesmo diante de um aumento na inadimplência em certos setores, principalmente no de veículos. O cenário de um soft landing ainda parece ser o mais provável. A bolsa de valores experimentou uma correção em outubro, reflexo tanto do conflito recém-desencadeado quanto da divulgação dos resultados financeiros de algumas grandes empresas de tecnologia, que evidenciaram desafios futuros devido à incerteza econômica e, claro, influenciados principalmente pela taxa de juros dos títulos de 10 anos, que está na casa dos 5%.
O Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter, de forma unânime, a taxa de juros em 4%, uma vez que o cenário inflacionário se mostra relativamente mais favorável. Neste mês, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) recuou para 2,9%, valor ainda considerado elevado quando comparado à meta estabelecida, mas as taxas de juros, por estarem em um patamar restritivo, são vistas como suficientes para conduzir a inflação de volta ao objetivo sem a necessidade de novos incrementos. O BCE também divulgou suas projeções para o CPI, antecipando um índice em torno de 2,7% para 2024 e de 2,1% para 2025. Quanto à atividade econômica, a política monetária em vigor vem surtindo efeito, moderando o ritmo econômico com tendências declinantes, apontando para uma recuperação lenta, mais próxima de uma estagnação do que de uma crise econômica acentuada.
A China demonstrou um PIB mais forte no último trimestre, registrando um crescimento anual de 4,9%. Este avanço foi impulsionado pelo aumento do consumo em diversos setores, com destaque para serviços, como restaurantes, viagens e automóveis. O comércio varejista atingiu a maior taxa de crescimento desde maio, compensando os efeitos adversos provenientes da crise no setor imobiliário, onde a empresa Country Garden sinalizou que poderá enfrentar seu primeiro default, alertando para a possibilidade de não honrar todas as suas dívidas. Contudo, em outubro, a atividade industrial recuou, entrando em contração, e, de forma inesperada, o setor de serviços também apresentou declínio, indicando que a atividade econômica permanece debilitada. Como parte dos esforços para sustentar o crescimento econômico, a China aprovou a emissão de 1 trilhão de yuan em títulos soberanos, o que resultou no aumento do déficit fiscal de 3% para 3,8%.
O Banco do Japão manteve sua política de taxa de juros próxima de zero em sua última decisão. Entretanto, ajustou a política de flexibilização para a taxa de rendimento dos títulos de 10 anos, estabelecendo 1% como referência para essa taxa. Esse movimento resultou em uma significativa desvalorização do iene, uma vez que o mercado antecipava uma expansão do Yield Curve Control (YCC) para uma margem de até 1,5%. Como consequência, o par USD/JPY alcançou o patamar de 151,7, superando a máxima registrada durante a primeira intervenção do banco central no mercado cambial.
Carta Mensal outubro/2023 RC Hedge FIM outubro-23 Moedas -1,00% Bolsa -1,25% Juros -0,79% Taxas e Custos 0,02% Título Público 0,90% Total -2,12% RC Plus FIM outubro-23 Moedas -4,35% Bolsa -4,21% Juros -0,90% Taxas e Custos 0,34% Título Público 0,85% Total -8,27% Matera RC FIM outubro-23 Moedas -0,67% Bolsa -0,65% Juros -0,43% Taxas e Custos 0,06% Título Público 0,94% Total -0,75% Atribuição de Performance O CDI no mês de outubro de 2023 foi de 1,00% O Banco da Inglaterra deve manter a taxa de juros diante dos recentes sinais de desaceleração no mercado de trabalho, evidenciados pela perda de postos de trabalho, que já afeta o setor imobiliário com uma queda nos preços dos imóveis. Ademais, a inflação ao nível do varejo apresentou uma redução para o menor índice em mais de um ano, o que indica um possível alívio na crise do custo de vida que assola o país. Segundo o Índice de Preços ao Varejo do British Retail Consortium (BRC), houve um declínio de 6,2% para 5,2%, marcando o quinto mês consecutivo de queda.
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) planeja reduzir a taxa de juros em 0,50 ponto percentual no início de novembro, levando a Selic para 12,25%. Contudo, a principal questão que se coloca é até que patamar a Selic poderá chegar. Considerando que a inflação tem se mostrado contida, com os serviços atingindo o menor índice do ano em 4,8%, e que a atividade econômica demonstra sinais de perda de dinamismo — afetando a arrecadação e, por consequência, o equilíbrio fiscal —, haveria espaço para discutir uma aceleração no ritmo de corte para 0,75 ponto percentual em dezembro. No entanto, diante da elevação dos juros nos Estados Unidos, essa estratégia pode não ser viável. Nesse contexto, projeta-se uma taxa de juros terminal no Brasil entre 10% e 10,5%, com a possibilidade de um ajuste de -0,5% até 10,75% caso a inflação continue controlada, sendo o comportamento do câmbio, junto com a inflação, um fator determinante. O presidente do Banco Central, em sua última palestra, destacou a importância dos juros elevados nos EUA, mencionando possíveis causas como o problema fiscal americano e a venda de títulos do Tesouro pela China, que defende sua moeda. Isso implicaria menor liquidez global, afetando especialmente os mercados emergentes. Ele enfatizou a necessidade de persistir nas reformas domésticas e reconheceu os esforços do governo nesse sentido. O diretor de política monetária, Galípolo, pontuou que a principal preocupação vem dos juros externos e do impacto cambial, embora o real tenha se mantido estável recentemente. No cenário político, o presidente Lula cedeu às pressões do Centrão e de Arthur Lira, resultando na nomeação do novo presidente da Caixa Econômica Federal. Paralelamente, foi aprovado o Projeto de Lei dos fundos offshore, ilustrando a continuidade do jogo político de concessões mútuas. Um novo pacote de medidas fiscais para redução do déficit está em discussão, mas o presidente desautorizou o ministro Haddad, que tem desempenhado um bom trabalho, ao afirmar que o país não perseguirá o déficit zero para 2024, pois não realizará cortes que possam restringir o crescimento e os investimentos. Um déficit entre 0,25% e 0,5% do PIB foi mencionado como aceitável, embora essa postura possa pressionar por maiores gastos em 2024, potencialmente elevando o déficit para algo em torno de 0,8% a 1%.
Nosso mês foi adverso, influenciado pela posição comprada em dólar, estabelecida diante do contexto internacional, marcado por guerra e juros americanos elevados. Contrariando expectativas, o câmbio apresentou uma performance robusta, impulsionado por uma balança comercial vigorosa, que alcançou cerca de 90 bilhões de dólares. Entretanto, projetamos para novembro e dezembro um aumento na cotação da moeda americana, motivado pelo fluxo de pagamentos de dividendos e remessas, bem como pela incorporação do risco fiscal decorrente da alteração da meta fiscal nos preços. Experimentamos ainda outro revés com nossa posição comprada em iene, que se deprecia em meio ao aumento das taxas de juros globais, além de um stop do mercado após a decisão do BOJ. Apesar disso, mantemos a convicção de que existem fundamentos para a valorização da moeda japonesa e que o Tesouro do Japão poderia intervir caso ocorra uma desvalorização desordenada em relação ao mercado. Mesmo com a pausa na escalada dos juros mundiais, esperamos uma estabilização ou valorização do dólar frente às principais moedas do Grupo dos Quatro (G4). No âmbito das opções de juros, nossa aposta em uma aceleração do ritmo para dezembro foi frustrada pelo predomínio do cenário externo, resultando em perdas. Quanto ao mercado de ações americano, embora estivéssemos posicionados para a venda, optamos por encerrar e preferimos assim aumentar nossa posição na moeda. Em resumo, outubro foi um mês para ser esquecido, onde os planos não se concretizaram como esperado. Aguardamos um novembro mais promissor.