Carta do Gestor/Informativo Mensal Dezembro de 2023
- Carta do gestor
- 4 de janeiro de 2024
O mercado americano deu continuidade no rali de novembro durante o mês de dezembro, embora com menor intensidade, mas o suficiente para as bolsas mundiais registrarem ganhos expressivos em 2023. Isso ocorreu mesmo com quase todos os dirigentes do FED expressando que as taxas de juros não irão cair em breve. Ainda assim, o mercado manteve uma probabilidade de 70% a 80% de que a taxa cairá em março, dando suporte às bolsas e ao mercado de juros, que atingiram novas mínimas desde o último movimento. Os dados da inflação americana colaboram com a trajetória de queda dos juros, visto que o PCE registrou a menor taxa em doze meses, 2,60%, contra os 2,80% esperados pelos economistas e os 3% registrados em outubro. Quanto aos dados de atividade, alguns ficaram acima do esperado e outros abaixo indicando um “soft landing” até o momento.
O Banco Central Europeu manteve a taxa e o discurso duro, porém citando a probabilidade de que os juros tenham atingido o pico. Contudo, esclareceu que não há chances de a taxa cair no curto prazo. Afirmando que a inflação está na direção correta, mas ainda é cedo para declarar vitória. O mais provável é que ocorra um corte nas taxas na metade de 2024, mais tarde do que os investidores esperam. No entanto, tudo dependerá do comportamento da economia. Por enquanto, os números da inflação são animadores: o CPI desacelerou para 2,4% e o núcleo da inflação para 3,1%, deixando o BCE em uma posição confortável para aguardar e verificar se a inflação continuará seu processo de queda até atingir a meta de 2%.
A Inglaterra manteve a taxa de juros, mas passa pelo mesmo processo de desinflação que o resto do mundo. O último dado de inflação veio muito melhor do que o esperado: 3,9%, abaixo dos 4,3% previstos pelos economistas. Esse dado levou os economistas a aumentarem as apostas de que o Banco Central também terá que abandonar em breve esse discurso de manter taxas de juros mais altas por mais tempo, possivelmente no meio do ano de 2024.
Na China, a economia continua em banho maria, mas o Banco Central tem promovido uma redução estável e moderada nos custos dos empréstimos em geral, na tentativa de reativar a economia. Essa estratégia parece estar dando resultado, pois os dados de vendas de casas até o dia 18/12/2023 mostraram um salto nas vendas nas áreas de Xangai e Pequim. A China está reduzindo gradativamente sua participação na dívida americana e as importações para equilibrar seu comércio exterior para reduzir o risco à dívida dos Estados Unidos. A produção industrial continuou a enfraquecer em novembro, mostrando o desequilíbrio na economia e indicando que possivelmente o governo terá que adotar novas medidas de estímulo.
O Japão, mais uma vez, manteve sua política monetária com taxas de juros negativas, a última do mundo, e já sinalizou que não deve alterá-las em janeiro. Tomará medidas em relação à taxa quando a inflação ultrapassar o nível alvo no próximo ano fiscal. Além disso, revisou para cima a previsão de inflação de 1,9% para 2,5% e, simultaneamente, fez uma previsão otimista para o PIB, com um crescimento de 3%.
O Brasil conseguiu cumprir a agenda de votações no Congresso e concluiu a reforma tributária depois de 40 anos. Com isso, a S&P, agência de rating, melhorou a nota do Brasil, igualando-a às outras agências, Moody’s e Fitch. O orçamento de 2024 foi concluído com meta fiscal zero, com revisão prevista para março. A tributação das apostas esportivas e a MP da subvenção do ICMS ajudaram o governo na sua pauta arrecadatória para cumprir a meta fiscal zero, algo que o mercado prevê com um déficit de 0,50 a 1%.
O Banco Central cortou a taxa de juros em 0,50 pontos percentuais, para 11,75%, e já sinalizou outros dois cortes de 0,50% na taxa nos meses de janeiro e março. Reconheceu a melhora na inflação corrente, mas, com as expectativas de longo prazo ainda acima da meta, não consegue acelerar o ritmo de queda da taxa de juros. Também reconheceu a melhora do cenário externo, mas ainda o cita como uma fonte de risco. No entanto, isso foi suficiente para que as taxas de longo prazo caíssem e garantissem mais um mês positivo para a bolsa brasileira, com forte fluxo de entrada de recursos estrangeiros, fazendo com que a bolsa fechasse perto da máxima histórica.
Em dezembro, conseguimos aproveitar a valorização do iene e a desvalorização do dólar no Brasil, mesmo que com menor intensidade devido ao forte fluxo de saídas financeiras, que são tradicionais neste mês do ano. A bolsa brasileira também contribuiu positivamente para o resultado, porém tivemos um ajuste negativo com a venda na bolsa americana. Enfim, o ano acabou. Esperamos um 2024 dividido em duas partes: a primeira, até junho/julho, com um ambiente positivo, tanto interno quanto externo, para o mercado; e a partir do segundo semestre, uma expectativa de piora do cenário no Brasil, principalmente porque o ciclo de queda da taxa de juros estará se encerrando e os desafios fiscais serão novamente postos em xeque, especialmente em função das eleições de outubro e da definição da meta fiscal para 2025, na qual se projeta um superávit que não será fácil de alcançar.
Gostaríamos de agradecer a confiança depositada e desejar a todos um ano de 2024 repleto de saúde, paz e sucesso.