Carta do Gestor/Informativo Mensal Julho de 2024

Julho de 2024 ficará marcado na história da política americana devido à tentativa de assassinato do candidato republicano Donald Trump. Este evento ocorreu em um momento de fraco desempenho de Joe Biden no primeiro debate e sob intensa pressão para que abandonasse a candidatura. Após o atentado, o presidente americano retirou sua candidatura, apoiando Kamala Harris, o que introduziu uma nova dinâmica na política americana para tentar conter a ascensão de Trump.

No cenário econômico, o FED indicou em sua reunião de julho que o primeiro corte de juros poderá ocorrer em setembro, embora a decisão tenha sido condicionada à continuação de melhorias nos dados de inflação e emprego. Uma aceleração na perda de empregos poderia ser o gatilho necessário para restaurar a confiança que ainda falta. O Banco Central Americano busca um ajuste suave e está cauteloso para não restringir excessivamente a economia, dado seu duplo mandato de sustentar emprego e controlar inflação.

No cenário europeu, os dirigentes do BCE destacam que, para que a inflação retorne à meta de 2%, será necessário um aumento da produtividade e uma moderação nos salários dos trabalhadores. Joachim Nagel, ressalta que a evolução salarial robusta poderá dificultar o retorno da inflação à meta, tornando o caminho desafiador. Este cenário é corroborado pelo CPI de julho, que registrou um aumento de 2,60%, superando as expectativas de 2,40%, e o núcleo do índice que atingiu 2,90%, contra os 2,80% esperados, intensificando os debates sobre possíveis reduções adicionais nas taxas de juros.

Na Inglaterra, Keir Starmer foi nomeado ministro pelo Partido Trabalhista, marcando seu retorno ao poder pela primeira vez desde 2010. Seu principal desafio será retomar o crescimento econômico enquanto enfrenta um déficit orçamentário estimado em até 30 bilhões de libras, um fator preocupante para as projeções de revitalização dos serviços públicos no país. Em uma decisão equilibrada (5×4), o Banco da Inglaterra reduziu a taxa de juros pela primeira vez desde o início de 2020, citando uma redução suficiente nas pressões inflacionárias para justificar o corte. A cautela é aconselhada em relação à velocidade e à magnitude dos cortes futuros, com o comitê decidindo sobre o nível necessário de restrição a cada reunião para que as pressões inflacionárias continuem a arrefecer.

Na China, a reunião de liderança do partido comunista não apresentou novidades, causando desapontamento entre os agentes. Sem estímulos para o setor imobiliário e com a inflação abaixo das expectativas, o Banco Central Chinês reduziu a taxa de referência para um ano para 3,35% e a taxa de cinco anos para 3,85%, sendo esta última crucial para o setor imobiliário. Contudo, o mercado considerou os cortes insuficientes para gerar otimismo, especialmente diante da fraca demanda observada em resultados recentes de montadoras e marcas de luxo europeias, como Hugo Boss, Burberry, Daimler e Louis Vuitton, que reportaram uma queda de 14% em suas vendas no segundo trimestre. De acordo com os dados de julho, o nível de atividade econômica permanece fraco, evidenciado pela retração do PMI, que diminuiu para 49,4. Este índice reflete uma contração na economia doméstica e uma redução no volume de pedidos internacionais. Adicionalmente, os dados do setor de serviços revelam uma diminuição nas vendas varejistas, sinalizando uma desaceleração nesse segmento crucial da economia.

No Japão, o Banco Central interveio novamente no mercado de câmbio, após o iene atingir a marca de 162 ienes por dólar. Com a expectativa de redução das taxas de juros nos Estados Unidos em setembro, houve um movimento de “stop” de posições de carry trade contra moedas de mercados emergentes, particularmente o México e o Brasil. O Banco do Japão elevou a taxa de juros para 0,25%, indicando que a inflação está no caminho correto, apesar de muitos agentes não esperarem pelo aumento. Com o endurecimento das condições financeiras, houve uma redução na compra de títulos. Ueda indicou que o BOJ pretende continuar elevando as taxas de juros no futuro, dado que as expectativas de crescimento econômico permanecem superiores ao PIB potencial. Além disso, a desvalorização do iene persiste como um fator de risco para a inflação, reforçando a necessidade de medidas monetárias mais restritivas.

No contexto de um mês marcado por intensa volatilidade, optamos por estratégias de curto prazo em detrimento de posições de mais longas, principalmente pela volatilidade do cenário doméstico e pela proximidade das eleições americanas, que tendem a adicionar incerteza ao mercado internacional. Encerramos nossas posições de juros que mantínhamos desde março, que se mostraram desfavoráveis no mês, assim como nossa posição em euro. Por outro lado, obtivemos ganhos com a compra de dólares e a venda de bolsa americana, além de operações com o iene. Concluímos o mês com nossas posições zeradas, interpretando que o dólar, ao alcançar R$ 5,65, parece um tanto depreciado, sobretudo devido à redução dos juros americanos prevista para setembro, que poderia fortalecer o dólar. Portanto, continuaremos a observar o comportamento do mercado, atentos a qualquer desaceleração na economia americana, que poderia enfraquecer o dólar, a menos que ocorra uma recessão, cenário que atualmente não consideramos provável.

Nosso foco permanecerá na implementação de posições curtas, procurando aproveitar a volatilidade intradiária para gerar alfa até que o cenário se torne mais definido. Mantendo o objetivo de retornar ao topo da montanha.