Carta do Gestor/Informativo Mensal Outubro de 2024

Em outubro, o mercado mudou mais rápido que a velocidade do som, impulsionado por pesquisas que colocaram Trump à frente de Kamala Harris. Com o discurso de Trump defendendo tarifas de 60% sobre a China e redução de impostos para empresas americanas, esse cenário pressionou o mercado a ajustar a taxa terminal americana de 3% para 4%, impactando toda a curva de juros e fortalecendo o dólar. O índice DXY teve valorização de quase 3% no mês. A bolsa americana atingiu novas máximas em função dos resultados dos bancos, mas sofreu um recuo no final do mês devido a alguns resultados das “Techs” (Microsoft, Apple e Meta) que, apesar dos fortes resultados, decepcionaram no guidance, fechando o mês com alguma perda.
O mercado acredita em um soft landing ou até mesmo em um no landing para o futuro, caso Trump seja vitorioso nas eleições de 05/11/2024, especialmente se houver vitórias também na câmara e no senado, consolidando uma onda vermelha. Esse cenário implicaria em mais impulso fiscal, crescimento do PIB e, consequentemente, mais inflação. A única certeza que temos é que, se Trump vencer, enfrentaremos um novo panorama global mais desafiador, com maior protecionismo comercial, inflação elevada e um dólar fortalecido. Esse cenário poderá ser desfavorável para os mercados emergentes, mas aguardaremos os resultados das eleições. Por outro lado, caso Kamala vença, sem maioria em ambas as casas, algumas de suas propostas, como o aumento do salário-mínimo por hora trabalhada, poderão enfrentar barreiras. Sabemos que, no geral, Kamala representará uma continuidade do governo Biden, com algumas mudanças pontuais, mas ambos ainda não abordaram com clareza como pretendem controlar os gastos fiscais ampliados desde a pandemia. Assim, independentemente do resultado eleitoral, é provável que enfrentemos uma inflação mais elevada no futuro, caso não sejam implementadas políticas fiscais adequadas.
Em outubro de 2024, Israel intensificou suas retaliações aos ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023 com uma nova série de bombardeios direcionados a bases militares no Irã. Nesse contexto, o cenário global tem se tornado cada vez mais militarizado, e o ouro, como ativo de proteção, já acumula uma valorização superior a 30% no ano. Esse aumento reflete tanto a demanda dos bancos centrais quanto as tensões da guerra entre Ucrânia e Rússia, a ameaça de uma possível invasão chinesa em Taiwan e o elevado déficit fiscal dos EUA, com o mercado buscando se resguardar de uma possível alta inflacionária nos Estados Unidos.
O Banco Central Europeu reduziu a taxa de juros em 0,25%, para 3,25% ao ano, conforme o esperado, devido ao enfraquecimento da atividade econômica ao longo do último mês. Após a última reunião, esperava-se uma pausa nas taxas, mas os dados se deterioraram durante o mês e a inflação caiu abaixo da meta pela primeira vez em três anos. Diante disso, os dirigentes decidiram manter o corte devido à inflação e à atividade econômica. Esse cenário sugere que mais reduções nas taxas de juros estão por vir, pois Lagarde, em seu discurso, deu maior ênfase ao enfraquecimento da atividade econômica, embora as próximas decisões dependam dos dados econômicos futuros.
A inflação na Inglaterra caiu abaixo da meta de 2% pela primeira vez em três anos e meio, atingindo 1,7%, o que abre caminho para um segundo corte de juros no próximo mês. Durante o verão, os salários cresceram no ritmo mais lento em mais de dois anos, indicando um alívio nas pressões inflacionárias.
O déficit fiscal governamental superou as expectativas na primeira metade do ano fiscal. Para combater o déficit, Rachel Reeves propôs um aumento de impostos de 40 bilhões, dos quais 25 bilhões viriam de uma elevação nas contribuições ao seguro nacional dos empregadores, um imposto destinado a financiar o serviço de saúde e pensões. As gestoras de private equity também pagarão mais impostos sobre ganhos de capital, e as brechas nas leis de impostos sobre herança serão fechadas – um típico cardápio de políticas de esquerda, focado no aumento de impostos. A reação do mercado a esse pacote não foi das melhores: as taxas de juros de longo prazo, de 10 anos, alcançaram a máxima do ano, em torno de 4,50%. Além disso, a Moody’s alertou que o endividamento planejado pode dificultar os esforços para organizar as finanças do país, e os agentes já precificam uma queda menor nas taxas de juros.
O PIB do terceiro trimestre da China, apesar da desaceleração, superou as expectativas, registrando 4,6% contra a projeção de 4,5%. Esse resultado foi sustentado pelo desempenho acima do esperado da atividade em setembro, tanto na indústria quanto no consumo. Na indústria, o aumento da produção de veículos elétricos, semicondutores e celulares contribuiu para a alta nos índices. O setor de veículos mostrou sinais de recuperação, com o fim da queda interanual nas vendas, enquanto o setor imobiliário, embora ainda distante de uma recuperação completa, apresentou uma queda de preços ligeiramente menor, apesar dos investimentos permanecerem em patamar baixo. As recentes medidas anunciadas pelo governo devem dar sustentação à atividade econômica no último trimestre do ano. Com isso, a China deve crescer perto de 5% em 2024.
No Japão, o iene atingiu seu nível mais baixo em três meses, cotado a 153 ienes por dólar, em grande parte devido ao cenário global, com o aumento das taxas de juros influenciado pelas eleições americanas e a postura do mercado em rever a taxa terminal de juros nos EUA. O governador do Banco do Japão, Ueda, destacou que as perspectivas para as economias estrangeiras, incluindo a dos EUA, permanecem incertas e os mercados estão instáveis. O Banco do Japão continuará monitorando de perto o impacto desses fatores na perspectiva econômica, ajustando sua política monetária em direção à meta de inflação de 2%, e observando a taxa de câmbio, que agora possui maior capacidade de impactar os preços do que no passado.
O partido do primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, perdeu a maioria parlamentar pela primeira vez desde 2009, conquistando apenas 215 cadeiras das 233 necessárias para a maioria. A oposição defende a mudança da meta de inflação do BOJ de 2% para acima de zero, o que implicaria em juros estruturalmente mais altas do que as atuais. O Banco do Japão decidiu manter as taxas inalteradas em 0,25%, monitorando, por ora, as tendências salariais e de preços na economia para definir os próximos passos, além de acompanhar o desenrolar das eleições americanas e seus possíveis impactos.
Em outubro, o mercado brasileiro enfrentou uma “tempestade perfeita”. A expectativa por medidas fiscais, como cortes de gastos, que seriam anunciadas após as eleições municipais, não se concretizou. Além disso, a possibilidade de vitória de Donald Trump nas eleições americanas e a reprecificação dos juros terminais nos EUA de 3% para 4% pressionaram o dólar, que subiu 6% no mês, fechando a R$ 5,78. A bolsa caiu 1,60%, e os juros futuros atingiram a máxima do ano, precificando uma taxa Selic de 13,50% para o final de 2025.
Nosso mês acabou sendo impactado pela alta final do dólar. Estávamos comprados em dólar e vendidos em bolsa, mas nos equivocando ao acreditar que o governo lançaria alguma medida concreta após as eleições municipais, considerando a forte desvalorização cambial no ano e seus efeitos na inflação. Mudamos nossa estratégia, virando vendedores com hedge na bolsa, mas acabamos fechando a posição quando o Haddad mencionou que as medidas de ajuste viriam, mas sem uma data definida, e que dependeriam da aprovação do Congresso para fortalecer o arcabouço fiscal. Isso resultou em um saldo negativo no dólar, embora tenhamos conseguido alguns ganhos no índice futuro e na bolsa americana, que infelizmente não foram suficientes.
No início do mês, tentamos uma venda no Yen, mas, com o crescimento de Trump nas pesquisas, fechamos a posição com uma perda. No mercado de juros, acreditamos que os preços já refletem bem as expectativas, sem grandes oportunidades no momento.
Estamos bastante preocupados com a situação atual no Brasil, onde o mercado não dá mais o benefício da dúvida e exige medidas concretas do governo, agravando a desvalorização do Real diante do cenário externo desfavorável. Acredito que, com uma vitória de Trump, o dólar possa chegar a R$5,90 ou até R$6,00. Porém, como os investidores estrangeiros já estão bem-posicionados em dólar globalmente, e com a posição técnica elevada, este é um momento de cautela. Não descartamos uma possível intervenção do Banco Central em certos níveis – não para reverter a tendência, mas para suavizar o ritmo de desvalorização – ou mesmo alguma ação concreta do governo, embora isso pareça difícil, dado o posicionamento do Presidente em não mexer na indexação do salário-mínimo e nos investimentos mínimos em saúde e educação. Para ele, esses são investimentos; para o mercado, são interpretados como gastos.
O momento pede cautela. Com o dólar consolidado nesse patamar, podemos observar uma desaceleração mais acentuada da economia, uma inflação mais consistente em 2025 e a possibilidade de os juros voltarem ao piso de 13,75%, retomando o nível de início do ciclo de queda.
Como gestor, estou enfrentando um ano desafiador, quase como uma verdadeira areia movediça, talvez o mais difícil até agora, com uma sequência de resultados negativos prolongada. Mesmo assim, sigo dobrando meus esforços para reverter essa situação e continuar subindo a montanha em busca de melhores resultados, pois sei que onde estou agora não é o meu lugar.