Carta do Gestor/Informativo Mensal Agosto de 2024

No mês de agosto, ocorreram alguns eventos que geraram bastante volatilidade nos mercados. A começar pelo payroll, que indicou uma perda no dinamismo do mercado de trabalho, além de revisões para baixo e um aumento da taxa de desemprego de 4,10% para 4,30%. Diante disso, o mercado começou a desconfiar que poderia ocorrer um hard landing ao invés de um soft landing. Como resultado, a bolsa do Japão despencou 12,4%, e a moeda japonesa teve uma grande valorização, em resposta ao BOJ ter aumentado os juros na reunião de julho e ter sinalizado disposição para novos aumentos. Consequentemente, a grande operação de funding, que envolvia vender iene e comprar ativos como moedas de países emergentes, começou a ser desmontada, causando grandes perdas nos mercados.

No entanto, tudo mudou após a divulgação de dados sobre a atividade econômica dos EUA, como as vendas no varejo, que superaram as previsões, mostrando que o cenário de hard landing não está se concretizando. Além disso, com o Banco Central do Japão sinalizando que, enquanto os mercados estiverem instáveis, não fará mais alterações nos juros, fez as bolsas recuperarem quase todas as perdas e aproximaram-se novamente das máximas, como se nada tivesse ocorrido. O que demonstra o quão perigoso o mercado está, devido ao elevado grau de alavancagem.

O evento mais aguardado em Jackson Hole foi o discurso do Jerome Powell, no qual ele apresentou sua visão sobre a economia americana. Ele ressaltou que o Banco Central Americano possui um mandato duplo: estabilidade de preços e meta de emprego, e que está em busca do equilíbrio entre ambos. Ele foi enfático ao afirmar que os maiores riscos atualmente estão relacionados ao emprego, e que o FED dará prioridade a esse aspecto do mandato, sem perder de vista a inflação. Além disso, indicou que chegou o momento de reverter o aperto monetário implementado para controlar a inflação, e que não aceitará uma deterioração adicional no mercado de trabalho. O tamanho do ciclo de flexibilização será determinado de acordo com a evolução do mercado de trabalho. A flexibilização começará em setembro, com uma redução mínima de 0,25%, mas, caso o emprego piore, o mercado poderá exigir uma redução de 0,50%. Atualmente, temos 100 pontos de corte projetados para as próximas três reuniões, mas o payroll de setembro será decisivo para definir o tamanho do corte em setembro.

O Banco Central Europeu também realizará outro corte em sua taxa de juros em setembro, pois os riscos para a atividade econômica são predominantemente de baixa. O tamanho desse corte também dependerá dos dados que serão divulgados até a reunião, bem como do tamanho do corte a ser implementado pelo FED, apesar de serem economias distintas. Um corte maior por parte do Banco Central Americano indicaria uma desaceleração mais acentuada. De acordo com alguns membros do colegiado, o aumento dos riscos para o crescimento econômico demanda um ajuste na política econômica, e o processo de desinflação continua, com a inflação caminhando para a meta de 2%, que deve ser atingida até 2025.

Na Inglaterra, o primeiro-ministro Keir Starmer enfrenta decisões difíceis em relação a impostos e gastos. Após o endividamento do governo do país ter superado as expectativas nos primeiros quatro meses do ano fiscal, o déficit orçamentário totalizou 51,4 bilhões de libras entre abril e julho, 4,7 bilhões a mais do que o previsto. A dívida nacional atingiu 99,4% do PIB, alcançando o maior nível desde 1960. A inflação no Reino Unido aumentou menos do que o esperado pelos economistas, levando os traders a antecipar apostas sobre o ritmo dos cortes das taxas de juros nos próximos meses. O CPI subiu 2,2%, abaixo dos 2,3% esperados pelos agentes, e a inflação de serviços registrou a menor variação em mais de 2 anos, reforçando a expectativa de mais cortes à frente. O PIB cresceu 0,6% no segundo trimestre, após um ganho de 0,7% nos primeiros meses do ano, refletindo a força nos gastos do governo e no setor de serviços. A China manteve as taxas de juros inalteradas como forma de proteger suas margens de lucro, e os formuladores de políticas estão focados na saúde das instituições financeiras. O governador do PBoC, Pan Gongsheng, afirmou que as autoridades evitarão tomar medidas drásticas, sugerindo uma abordagem cautelosa para estimular a economia. O governo está considerando uma opção de financiamento para que os governos locais possam comprar imóveis não vendidos, após uma série de pacotes de resgate não terem conseguido revitalizar o mercado imobiliário.

No Japão, após o aumento dos juros e a queda de 12,4% na bolsa naquela segunda-feira, os mercados se recuperaram após as declarações de Kazuo Ueda, que indicou que, enquanto os mercados se mantiverem instáveis, não haverá novas elevações nos juros. Após o retorno à normalidade, Ueda manteve a possibilidade de novos aumentos nas taxas de juros ainda neste ano. Em uma audiência parlamentar, ele declarou: “Se conseguirmos confirmar uma certeza crescente de que a economia e os preços permanecerão em linha com as previsões, não haverá mudança em nossa posição de que continuaremos ajustando o grau de flexibilização.” O Banco do Japão divulgou uma série de estudos que destacam a persistência das pressões inflacionárias na economia, sugerindo que ainda há argumentos favoráveis a um novo aumento dos juros, enfatizando a escassez crônica de mão de obra no país e seu impacto potencial nos salários.

O Brasil segue com expectativas de inflação desancoradas e uma atividade econômica forte, com revisões do crescimento do PIB para 2,50% em 2024. Assim, o Brasil é o único país no mundo com expectativa de elevação nas taxas de juros futuros, que o mercado precifica em 12% para dezembro. No entanto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos, afirmou em evento recente que o prêmio de risco dos juros não é compatível com a mensagem da ata, e que, caso haja aumento, o ciclo será pequeno. Concluímos, portanto, que a alta deve ser de até 1% em dezembro, chegando a 11,50%.

Apesar da turbulência nos mercados em agosto, o Brasil recebeu um fluxo de capital positivo para a bolsa, devido à expectativa de queda das taxas de juros globais, começando pelo FED em setembro, enquanto aqui se espera um aumento. Isso demonstra a independência do Banco Central em subir juros e reflete um voto de confiança no recém-indicado Gabriel Galípolo, pelo presidente Lula, para ser o próximo presidente do Banco Central. No entanto, o grande problema continua sendo as contas públicas. Os números de julho mostraram uma deterioração adicional, com o déficit público atingindo 10,1% do PIB, considerando o pagamento de juros. O expansionismo fiscal contribui para o crescimento mais acelerado e a elevação da inflação para 4,30%, afastando-se das metas. Por isso, o mercado precifica a elevação das taxas de juros, e é essencial que o Banco Central ajuste sua comunicação, que atualmente está vaga. Para finalizar, a PLDO de 2025 revela que o governo planeja aumentar tributos, promover a reoneração da folha de pagamentos e gerar receitas com outorgas e dividendos. O enredo é o mesmo: o governo precisará do Congresso para aprovar seu pacote, insistindo em medidas que já enfrentaram resistência na Câmara e no Senado.

Tivemos mais um mês decepcionante, em que nossas estratégias não funcionaram. Vendemos dólar esperando uma atividade econômica global mais fraca; a queda dos juros americanos, combinada com a elevação da Selic, deveria ter feito o real se apreciar, mas isso não ocorreu. Também vendemos ações na bolsa americana devido ao menor crescimento, acreditando que os lucros estavam bem estimados e que poderia haver uma correção, além das propostas inflacionárias dos candidatos. No entanto, acreditamos que setembro trará mais volatilidade, e a eleição deve começar a impactar os mercados. A eleição de Trump significaria um dólar forte, devido às tarifas e ao protecionismo, especialmente contra a China, enquanto Kamala Harris provavelmente aumentaria impostos sobre as empresas, o que não seria positivo para o mercado de ações.

O mercado está muito preocupado com a questão fiscal, mas, ao mesmo tempo, continua comprando ações, acreditando que a queda dos juros americanos será benéfica para os emergentes, trazendo mais fluxo de capital para o Brasil. Se isso for verdade, deveríamos ver uma apreciação do real. Portanto, os mercados parecem estar em desacordo: ou a alta da bolsa é temporária e deve ceder, ou o dólar irá enfraquecer. Vamos aguardar o mês de setembro.

Estamos posicionados em juros curtos para janeiro de 2025, com taxas em torno de 11,85%. Com a recente fala de Roberto Campos, não acreditamos em um aumento de 0,50% em setembro.

Gostaria de comentar que todos nós, sócios da gestora, somos cotistas dos fundos e estamos solidários com nossos clientes em relação às perdas. No entanto, não há mal que nunca acabe, nem bem que nunca termine. Estou empenhado em fazer o melhor para superar essa fase. Nunca fui o melhor, mas também não sou o pior; tenho fé e comprometimento para voltar a vencer. Reconheço que este tem sido um dos meus piores anos, e minha recuperação está sendo lenta, mas vamos acreditar e trabalhar juntos para mudar essa situação.