Carta do Gestor/Informativo Mensal Fevereiro de 2024

O mês de fevereiro foi marcado pelos dados de inflação da economia americana acima do previsto. Surgindo aincerteza se esse aumento foi apenas um “soluço” e se, em março, voltaremos a trajetória de queda ou não. Contudo,esse cenário foi suficiente para desencadear um realinhamento das taxas de juros, especialmente a de 2 anos, quepassou de 4,35% para 4,70%. Isso indica um adiamento das expectativas de corte de juros para o início de junho. Éimportante lembrar que, em janeiro, o primeiro corte estava programado para março, com uma probabilidade entre 70% e80%.

A mudança de postura do mercado ajudará muito a política do FED, que necessita de mais tempo e confiança parainiciar o processo de redução dos juros. Isso é relevante dado o cenário de mão de obra que continua apertada, emboraestejam surgindo sinais de equalização, e a atividade econômica esteja apresentando surpreendentes melhorias. O setorde serviços permanece resiliente, porém, o principal risco para o processo de controle da inflação é a possibilidade deestagnação, especialmente diante do crescimento dos salários registrado este mês.

Nada parece deter o otimismo da bolsa americana, que continua a atingir novas máximas históricas e a contagiaroutros mercados, como o japonês, que alcançou seu maior patamar em 34 anos, e o Stoxx 600 da Europa. Esseentusiasmo é impulsionado pelo crescimento econômico que continua a surpreender positivamente, juntamente commelhorias na inflação, mesmo que em menor intensidade do que o esperado. Além disso, os resultados resilientes dasempresas, que estão lidando bem com o aumento das taxas de juros, aliados ao desempenho impressionante deempresas de tecnologia como a NVIDIA, que registrou fortes ganhos, contribuem para manter o otimismo no setor.

Na Europa, o Banco Central Europeu tem encontrado um cenário mais favorável para a inflação em janeiro, emgrande parte devido ao baixo nível de atividade econômica na região. Os dados mais recentes sugerem que o pior podeter ficado para trás, uma vez que o setor de serviços apresentou melhorias e há indícios de desaceleração na indústria.Em janeiro o CPI ficou em 2,8%, permanecendo dentro das expectativas do mercado, já o núcleo da inflação alcançou3,3%. No entanto, os dirigentes expressaram que antecipar um corte nas taxas seria desnecessário no momento,optando por manter uma política ainda restritiva para auxiliar no processo global de desinflação. Prevê-se que o primeirocorte ocorra simultaneamente ao do FED no verão europeu, uma vez que as políticas estão interligadas.

No Reino Unido, a inflação ficou em 4% em janeiro, o mesmo nível registrado em dezembro, porém melhor do queo esperado. Isso indica uma trajetória de queda firme da inflação, trazendo otimismo de que possamos testemunhar maisdesinflação nos próximos trimestres. Se esse cenário se concretizar, poderemos considerar a possibilidade de cortes nastaxas de juros, mesmo que a inflação não atinja os 2%. As vendas do varejo registraram a maior alta em quase 3 anos,impulsionadas pela queda da inflação, o que sugere que os consumidores recuperaram o apetite por gastos. Isso, porsua vez, indica que a economia pode emergir rapidamente da recessão que enfrentou no segundo semestre do anopassado.

O CPI na China registrou uma queda de 0,8% no mês passado, o ritmo mais rápido desde a crise financeira.Enquanto isso, o Índice de Preços ao Produtor (PPI) caiu 2,5%, mantendo os preços em deflação há 16 mesesconsecutivos, o que aumenta a pressão sobre o governo para implementar mais estímulos econômicos. Os bancoschineses reduziram a taxa de empréstimo de 5 anos em 0,25%, para 3,95%. Essa foi a primeira redução desde junho e amaior desde a reformulação da taxa em 2019. Essa taxa é uma referência chave para hipotecas e seu ajuste para umaquantidade recorde indica um maior apoio ao setor imobiliário. Os dados do Ano Novo Chinês mostraram umcrescimento maior do que o nível pré-pandemia no setor de serviços, incluindo viagens e consumo. No entanto, o motorprincipal da economia, que é o setor imobiliário, permanece anestesiado. Vamos observar o impacto após o novo cortenas taxas de juros de 5 anos.

A economia do Japão surpreendentemente entrou em recessão após contrações em dois trimestres consecutivos.Como resultado, o Banco Central do Japão deve adiar as apostas sobre o momento em que a política acomodatícia seráencerrada. O Japão agora caiu para a quarta maior economia do mundo em termos de dólar, com a Alemanha ocupandoo terceiro lugar. Apesar da recessão, a bolsa do Japão atingiu um recorde de 34 anos. O diretor executivo do Banco doJapão afirmou que irá analisar cuidadosamente os dados econômicos e ainda acredita em um ciclo virtuoso de salários einflação. Ele ressaltou a importância de analisar os dados da inflação subjacente para uma melhor avaliação do cenárioe decidir sobre a saída da política acomodatícia que está atualmente em vigor.

Em fevereiro, o Brasil permaneceu relativamente tranquilo sem as sessões no Congresso. A inflação continuacontrolada e o mercado de trabalho mantém sua resiliência. Estamos atentos aos reajustes salariais, observando sehaverá alguma pressão adicional sobre a inflação, à semelhança do que ocorreu nos Estados Unidos, onde a inflaçãonos serviços teve uma leve oscilação em janeiro. Contudo, isso não deve impedir a redução das taxas de juros nomomento, apenas levanta a discussão sobre a taxa final. Atualmente, acreditamos que ela deva ficar entre 9,00% e9,50%. Na próxima reunião do Copom, o Banco Central poderá alterar suas indicações sobre “seus próximos passos”devido a piora dos juros externos e o mercado mudando seu “call” para o início da queda da taxa de juros americanapara junho o que pode resultar em uma taxa de juros final maior no Brasil. Observamos que o nível de atividadeeconômica parece mais robusto, refletindo em uma revisão do PIB para 2024 em torno de 2% e uma inflação em tornode 3,70% a 3,80%. Essa melhora na atividade também se refletiu na arrecadação, juntamente com a implementação denovas tributações sobre fundos. Diante disso, a revisão da meta de déficit pode não ocorrer em março, mas o mercadoprevê um déficit entre 0,50% e 1%.

Com o adiamento da redução das taxas de juros para junho, o dólar se mantém mais forte, especialmente devido àcorreção das taxas de juros na ponta curta. Nossa posição vendida tem sido afetada por essa dinâmica. Estamosconsiderando apostas em juros via opções para um cenário alternativo de manutenção da taxa final em torno de 9,5% e10%. Além disso, mantemos uma posição na Vale devido ao nível de preço e estamos monitorando o índice futurobrasileiro para identificar oportunidades de compra, especialmente após a grande saída de recursos entre janeiro efevereiro, que resultou em um significativo descolamento entre a bolsa americana e a brasileira.

Embora o começo de ano não esteja fácil, nos resta ainda 10 meses para trabalhar e perseguir nossos objetivos.Que março nos traga mais alegrias para os fundos.