Carta do Gestor/Informativo Mensal Janeiro de 2024
- Carta do gestor
- 6 de fevereiro de 2024
O início do ano foi marcado pela preocupação dos dirigentes do Federal Reserve com os cortes de juros embutidos na curva, manifestando essa inquietação em suas declarações, influenciando a expectativa de um corte de juros em março, que inicialmente estava em torno de 80%, a recuar para 50% até a data da reunião do FED. Apesar disso, a bolsa americana não só resistiu a uma queda, mas atingiu novas máximas históricas. Esse movimento foi sustentado pelos indicadores de atividade econômica e pela redução do PCE, que alcançou 2,6% ao ano. Curiosamente, durante janeiro, observou-se um movimento de saída de capital das bolsas de todo o globo, principalmente nos mercados emergentes, com a exceção da China que após a implementação de medidas de apoio econômico, experimentou a segunda maior entrada semanal de capital da sua história, totalizando o 12 bilhões de dólares.
O FED decidiu manter a taxa de juros inalterada, justificando que o comitê não possui a confiança necessária para efetuar um corte já na reunião de março. Embora reconheça o progresso no controle da inflação nos últimos seis meses, há uma preocupação de que a inflação possa voltar a acelerar. Jerome Powell expressou que um ressurgimento da inflação seria uma grande surpresa e acredita que as expectativas de inflação continuarão ancoradas. Diante dessas considerações, nossa visão sugere que o primeiro corte de taxa pode ser esperado para maio.
O S&P 500 registrou um ganho de 1,5% em janeiro. Além disso, a expectativa de um corte na taxa de juros para março diminuiu para 35%. Agora, nosso foco se volta para a análise dos dados do mercado de trabalho, da atividade econômica e, claro, da inflação, para definir os próximas passos do FED. Há apenas uma certeza, de que a taxa de juros alcançou seu teto e que o próximo movimento será de queda.
O Banco Central Europeu decidiu manter a taxa de juros em 4%, ratificando que ainda é muito cedo para discutir um corte nas taxas neste momento. O BCE manterá a política monetária restritiva até que haja plena confiança de que a inflação esteja em uma firme trajetória de queda para atingir a meta de 2%. A atividade econômica na zona do euro permaneceu fraca, refletida na revisão das projeções de crescimento para 2024, que foram ajustadas de 0,90% para 0,60% e o núcleo da inflação foi reduzida de 2,90% para 2,60%. Para 2025, as expectativas indicam uma inflação de 2,10% e um crescimento do PIB de 1,30%. Christine Lagarde insinuou a possibilidade de que o primeiro corte de juros ocorra durante o verão europeu. No entanto, ela ressaltou que a orientação da política monetária dependerá da análise de novos dados econômicos que surgirem nos próximos meses.
A inflação no Reino Unido surpreendeu e voltou a subir em dezembro, a primeira alta em 10 meses e atingiu 2.90% contra os 2,40% anteriores. Este movimento reverte uma tendência de seis meses de quedas consecutivas, afastando a possibilidade de uma redução dos juros antes do verão europeu. Os dados de atividade da indústria também mostraram um aumento, o maior em cinco meses, em função da interrupção de navios no Mar Vermelho, sendo mais um fator de risco para a inflação.
A China divulgou o PIB de 2023 em linha com as expectativas de mercado de 5.30%, o setor imobiliário continuou influenciando negativamente no PIB, evidenciando uma desaceleração nos investimentos imobiliários. Quanto à atividade econômica, observou-se uma redução tanto na demanda externa quanto interna, divergindo das perspectivas otimistas que prevaleciam no início de 2023. À medida que o mercado acionário registrou seu menor nível desde 2022, o governo implementou novas medidas para sustentar a economia. Entre essas ações, destacam-se a aquisição de ações por fundos locais e uma redução nas taxas de reserva obrigatórias para os bancos, a ser efetivada em duas semanas. Além disso, o governo sinalizou que, se necessário, possui margem para cortar ainda mais a taxa de juros para empréstimos de um ano dentro do primeiro trimestre. Os indicadores de atividade econômica de janeiro na China indicaram uma ligeira recuperação nos setores industrial e de serviços, embora sem grandes surpresas. No setor da construção, observou-se uma retração após dois meses consecutivos de crescimento. Ainda não é evidente o impacto dos estímulos governamentais, portanto, aguarda-se com os próximos dados para uma avaliação mais precisa dos efeitos dessas medidas.
O Banco do Japão optou mais uma vez por manter sua política monetária inalterada, sustentando a taxa de juro em zero. Contudo, a instituição manifestou maior confiança na economia e reafirmou seu compromisso de alcançar a meta de inflação estabelecida para eventualmente modificar a política monetária, embora não tenha dado pistas de quando será realizada. A bolsa local atingiu o seu nível mais alto desde 1990, refletindo o otimismo com a economia mesmo após o forte terremoto no começo do ano. Adicionalmente, a inflação recuou mais do que o previsto, registrando 1,6% em comparação com a expectativa de 2%. Esse decréscimo é atribuído à queda nos preços do petróleo e de alguns alimentos.
No Brasil, mesmo com o legislativo em recesso, houve um barulho político devido à Medida Provisória (MP) da desoneração e ao veto do Presidente Lula as emendas de comissão no orçamento de 2024. Essas ações foram interpretadas mais como um jogo político junto ao Congresso do que como enfretamentos. Nesse contexto, o governo lançou o plano para a indústria, prevendo investimentos de R$ 300 bilhões até 2026. Apesar de o mercado considerar o plano ambicioso, há preocupações sobre o impacto deste na situação fiscal do país, especialmente em um momento de restrições orçamentárias. Ressurgem temores de que o Partido dos Trabalhadores esteja retomando práticas anteriores de estimular o crescimento econômico através do uso de bancos públicos e taxas de juros subsidiadas. O mercado mantém sua atenção voltada para os indicadores fiscais, com expectativas de um déficit situado entre 0,50% e 1%. Prevê-se uma alteração na postura governamental em março, acompanhada de projeções para o crescimento do PIB em 2024, estimado entre 1,5% e 2%. A inflação é esperada em torno de 4%. Paralelamente, o Ibovespa experimentou um mês desafiador, com uma queda de 5%, influenciada pela realização de lucros e pela retirada de investimentos estrangeiros.
O Copom reduziu a taxa de juros para 11,25%, indicando a possibilidade de cortes semelhantes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões. O comunicado emitido após a decisão apresentou poucas alterações, adotando uma postura que consideramos neutra. Essa abordagem permite um período adicional para avaliar os recentes dados de inflação e atividade econômica, que se mostraram mais robustos, e seu potencial impacto sobre os serviços subjacentes.
Iniciamos o ano com posições vendidas no dólar, bem como nas bolsas americana e brasileira, utilizando essas operações como hedge caso nossa expectativa de baixa para o dólar e para os juros americanos — que atingiram mínimas em dezembro — não se concretizasse. Contudo, apesar de um momento inicial em que parecia que os mercados cairiam, eles rapidamente se recuperaram, impulsionados por declarações dos membros do Federal Reserve, que buscavam diminuir as expectativas de redução de juros, que haviam alcançado 80% de probabilidade para março. Com o dólar fortalecendo-se globalmente e a bolsa americana apresentando alta, optamos por encerrar nossas posições vendidas nas bolsas, tanto local quanto internacionalmente, mantendo apenas nossa posição vendida no dólar. Essa decisão baseou-se na expectativa de um enfraquecimento do dólar globalmente no primeiro semestre até o corte de juros do FED, além de considerar o saldo positivo na balança comercial, o fluxo favorável de dólares e a manutenção de juros em patamares restritivos. Permanecemos em nossa posição vendida no dólar, principal motivo para o desempenho negativo do fundo no início do ano. Estaremos atentos ao comportamento dos mercados em fevereiro para ajustar nossa estratégia conforme necessário.