Carta do Gestor/Informativo Mensal Junho de 2024
- Carta do gestor
- 11 de julho de 2024
O semestre que se encerrou foi marcado por uma significativa volatilidade global, especialmente em juros e moedas, devido à reprecificação dos ativos e ao adiamento da queda dos juros americanos. O ano começou com pelo menos três cortes de juros previstos para 2024, com uma estimativa de 80% de probabilidade em março. No entanto, devido aos números da inflação americana, que foram acima do esperado, e uma atividade resiliente esse processo foi adiado para o segundo semestre. Agora, com indicação de um a dois cortes com 70% de probabilidade de início em setembro, passamos o semestre com um dólar mais forte. O índice DXY (indicador que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas) valorizou 4,4% no ano, e houve aumento nas taxas de juros globais, especialmente na curva americana de 2 anos, que subiu de 4,28% em janeiro para 4,75%, e na taxa de 10 anos, que passou de 3,90% para 4,39%. Essa elevação nas taxas de juros provocou uma reprecificação dos ativos, especialmente nos mercados emergentes, resultando em queda nas bolsas e desvalorização das moedas, especialmente no Brasil e no México, que foram afetados também por problemas internos.
No cenário das bolsas, o segmento de inteligência artificial se destacou neste semestre, impulsionando os índices americanos a atingirem novas máximas históricas. Empresas como Nvidia, com uma valorização de 149%, Meta com 42%, Google com 30% e Microsoft com 19%, foram as grandes protagonistas deste movimento. Como resultado, o S&P 500 registrou um aumento de 14%, o Nasdaq de 18% e o Dow Jones de 3%. Na Europa, a redução das taxas de juros em junho, aliada à expectativa de crescimento econômico e controle inflacionário, favoreceu as bolsas, com o DAX subindo 8,80% e o FTSE 6%. Em contraste, a França enfrentou desafios políticos significativos, com o presidente Macron dissolvendo o parlamento e convocando novas eleições em resposta ao avanço da extrema direita ultraconservadora liderada por Le Pain. Isso levou o índice CAC a uma queda de 6,50% em junho, eliminando os ganhos acumulados ao longo do ano. Finalmente, no setor de commodities, o petróleo destacou-se com uma valorização de 14% no contrato futuro WTI, impulsionado principalmente por tensões geopolíticas envolvendo a guerra entre Rússia e Ucrânia, os conflitos entre Israel e Hamas, e as crescentes tensões regionais com o Irã.
Em junho, o principal indicador de inflação americano, o PCE, registrou 2,60% ao ano, alinhado com as expectativas e apresentando uma composição mais favorável devido à queda nos serviços. O core caiu de 0,26% para 0,08%, colaborando para que a política monetária continue restritiva, impactando a economia. O super core, que é o núcleo de serviços excluindo habitação, caiu de 0,28% para 0,10%. Os dados de atividade econômica vieram mais mistos, com sinais de desaceleração, enquanto o setor imobiliário apresentou queda excessiva em maio, à medida que os custos de financiamento estão elevados, prejudicando novos compradores. Com isso, o Fed deve reduzir os juros no último trimestre do ano.
No primeiro debate entre os presidenciáveis Trump e Biden, a vitória foi de Trump. Contudo, o que chamou atenção foi a postura de Biden, muitas vezes gaguejando nas respostas. Sua expressão facial parecia desconexa, similar a alguns vídeos que circulam criticando seu estado físico, causando um alvoroço para os democratas substituírem até a convenção em 19 de agosto. É importante notar que uma vitória de Trump nas eleições poderia impactar os preços dos ativos devido ao seu programa protecionista. As eleições americanas estão começando a atrair atenção e podem provocar volatilidade nos mercados, levando os investidores a ajustarem suas estratégias de risco.
Em junho, na Europa, ocorreu a primeira redução de juros, já totalmente antecipada pelo mercado. O Banco Central Europeu baixou a taxa para 4,25% ao ano e não se comprometeu com novas quedas. Os comentários foram percebidos como duros, dado o elevado nível de incerteza com a inflação, especialmente pela dinâmica dos serviços que surpreendeu de maneira altista na última divulgação, aliada ao aumento dos salários. Assim, o BCE tentou antecipar pressões vindas do mercado de trabalho na inflação, mas o mercado aposta em novo corte em setembro.
Na Inglaterra, o BOE manteve a taxa de juros em 5,25% por 7 votos a 2, mesmo com os dados de inflação caminhando para 2%. Andrew Bailey, no comunicado afirmou que, mesmo com a inflação caminhando para a meta, é muito cedo para cortar as taxas, em função dos serviços que ainda apresentaram uma inflação de 5,7%, acima dos 5,5% previstos. Com isso, o comitê eliminou a possibilidade de cortar a taxa de juros. Foi levado em conta também que existe a escolha do novo primeiro-ministro em 04/07/24, então, para não influenciar a votação e não favorecer nenhum candidato, uma decisão vista como prudente pelo contexto político.
No Brasil, o Copom decidiu manter a taxa de juros inalterada em 10,50% de forma unânime, destacando um ambiente externo desafiador devido à incerteza quanto à flexibilização da política monetária nos Estados Unidos. Em relação ao cenário interno, foi levado em conta uma atividade econômica um nível de emprego com dinamismo acima do esperado, com as expectativas de inflação ainda desancoradas. Diante disso, o comitê afirmou que continuará vigilante e manterá a taxa contracionista por tempo suficiente para alcançar a desinflação em torno da meta. Durante o semestre, o Brasil apresentou um dos piores desempenhos, com o real desvalorizando 15%. A situação se agravou com a revisão da meta fiscal em abril, que impulsionou uma piora significativa: a atividade econômica mais intensa aumentou as importações, e, após uma decisão controversa do Banco Central em maio, com um placar de 5 x 4, o mercado passou a perceber o Copom como mais político do que técnico. Recentemente, as pressões por um corte de gastos se intensificaram, com isso o presidente Lula afirma que o ajuste fiscal poderá ser realizado, porém sem impactar os mais pobres em áreas como saúde e educação, as quais ele considera investimentos e não gastos. Esta postura resultou em uma tensão constante com o mercado, que reage com mais desvalorização do real a cada declaração do presidente. Esses fatores também impactaram negativamente o mercado de ações, que encerrou o semestre com uma queda de 8%, além da revisão da taxa de juros de longo prazo, que afetou o retorno das empresas.
No mês de junho, nossa grande aposta estava nas opções de queda juros de 0,25%, que infelizmente não se materializou. Em março, estruturamos opções de juros projetando uma taxa terminal de 10%, esperando uma redução de 0,50% em maio e outra de 0,25% em junho, baseando no guidance que posteriormente optaram por não o manter. Diante disso, “rolamos” nossas posições para uma taxa terminal entre 10% e 10,25%. Contudo, esses planos não se concretizaram devido a uma mudança abrupta no cenário econômico. Essas variações nos juros contribuíram para perdas no janeiro 25, embora tenhamos mantido uma posição defensiva robusta com o DI janeiro 26. Tivemos uma perda em moeda japonesa e obtivemos ganho nas posições vendidas em euro.
Perspectivas para o segundo semestre: Ou o governo enfrenta um dilema crucial de implementar cortes de gastos significativos ou lidará com uma maior desvalorização do dólar. Com a economia demonstrando resiliência através dos baixos níveis de desemprego o aumento dos ganhos salariais, é provável que vejamos uma elevação na inflação. Nesse cenário, é possível que as taxas de juros permaneçam estáveis por agora. No entanto, se a inflação continuar a subir, podemos esperar um aumento nas taxas de juros em 2025, dependendo fortemente das flutuações cambiais. Pensando em estratégias, a bolsa pode servir como hedge para futuras compras de dólar, especialmente se o Banco Central adotar uma postura mais flexível em relação à inflação. A bolsa, sendo um ativo real, pode oferecer algum refúgio contra a volatilidade cambial. Além disso, continuamos com nossa estratégia “aplicada” no DI janeiro 25, que já considera uma elevação de 0,75% a 1% nas taxas, e “tomada” no janeiro 26.
Em relação ao cenário externo, esperamos maior volatilidade à medida que nos aproximamos das eleições americanas. Diante disso, planejamos testar uma venda na bolsa americana e esperamos uma queda nas taxas de juros dos EUA no último trimestre do ano.
Agora, ao começar o novo semestre, enfrentamos o desafio de escalar uma montanha. Nosso objetivo é iniciar essa ascensão com cautela, mas com o olhar sempre voltado para alcançar o topo.