Carta do Gestor/Informativo Mensal Maio de 2024
- Carta do gestor
- 7 de junho de 2024
O mês de maio pode ser dividido em diferentes etapas. Na primeira quinzena, observamos dados de geração de emprego e de inflação ao consumidor americano mais fracos, acompanhados por números de atividade econômica que indicaram uma desaceleração em relação ao mês anterior. Esses fatores contribuíram para um alívio na curva de juros americanos, permitindo que a taxa de 2 anos retornasse para 4,73%, um nível observado antes da divulgação do CPI americano de março, que havia causado uma reprecificação significativa nos ativos globais, especialmente na curva de juros. Consequentemente, o dólar se fortaleceu nesse período. Na semana do dia 20 de maio, ocorreram os leilões de títulos semanais de 2, 5 e 7 anos, os quais evidenciaram uma baixa demanda. Além disso, foram divulgados importantes dados de atividade econômica, incluindo a confiança do consumidor em maio, que alcançou 102, bem acima dos 97 esperados, sinalizando uma aceleração econômica. Esse cenário foi suficiente para que o mercado refletisse sobre o mês anterior e realizasse uma nova correção nos juros. Como resultado, as taxas retornaram quase aos níveis máximos anteriores, com a taxa de 2 anos aproximando-se de 5%, a taxa de 10 anos retomando o patamar de 4,60% e a taxa de 30 anos alcançando 4,73%. Essa movimentação reduziu as expectativas quanto ao número de cortes de juros este ano, com o mercado agora prevendo apenas um corte em dezembro. Como consequência, as bolsas ao redor do mundo registraram quedas, enquanto o dólar voltou a se fortalecer. Na última semana de maio, tivemos a divulgação do PIB do Estados Unidos, que mostrou um crescimento mais fraco do que o esperado, com 1,3% contra 1,6%, indicando uma desaceleração nos gastos dos consumidores e uma inflação abaixo das expectativas. No entanto, o índice mais aguardado no final do mês, o PCE de abril, apresentou um resultado positivo. O núcleo do PCE caiu para 0,25%, comparado a 0,33% no mês anterior, com a maior contribuição vindo dos serviços. O super core, que exclui habitação, também caiu de 0,42% para 0,26%. Vale lembrar que este índice é o preferido pelo FED para medir a inflação. A curva de juros fechou o mês um pouco mais alta, com os títulos de 2 anos voltando para 4,89%, 10 anos para 4,50% e 30 anos para 4,63%, ainda longe das mínimas do mês.
Na Europa, a situação inflacionária continua melhor do que nos Estados Unidos, e espera-se o primeiro corte de juros em junho, com a possibilidade de outro corte em setembro. Mesmo com as expectativas de inflação caindo de 3% para 2,9% em um ano e de 2,5% para 2,4% em três anos, os níveis ainda permanecem acima da meta de 2%. O PMI composto de maio da Alemanha subiu para o maior nível em 12 meses. O setor de serviços atingiu 52,2, acima dos 50,6 anteriores, e o setor industrial avançou de 42,5 para 45,4, indicando que o pior da atividade econômica ficou para trás. A queda dos juros ajudará na recuperação da economia, mesmo com o número de desemprego atingindo o recorde de 6,4%. No entanto, o fenômeno global de pleno emprego pode dificultar o trabalho do BCE para atingir a meta de inflação, um desafio frequentemente referido como “alcançar a última milha da inflação”. Este problema é agravado pelo aumento dos salários negociados, que subiram 4,7%, em comparação com 4,5% no último trimestre. Por esse motivo, a queda das taxas de juros será realizada com parcimônia, intercalando as reuniões para avaliar os impactos econômicos cuidadosamente. No último dia do mês, foi divulgado o CPI de maio da zona do euro, que veio pior do que o esperado: 2,60% contra 2,40%, e o core 2,90% contra 2,70% esperado. No entanto, esses resultados não foram suficientes para mudar as expectativas do mercado em relação ao corte de juros em junho.
Na Inglaterra, os preços do setor de varejo recuaram em maio para o nível mais baixo em dois anos. O aumento dos preços nas lojas desacelerou para 0,6% na primeira semana de maio, atingindo o nível mais baixo desde o final de 2021. Isso mantém viva a possibilidade de o BOE iniciar o primeiro corte de juros em junho, mesmo com o CPI de maio saindo acima do previsto, 2,3% contra 2,10%, mas ainda próximo da meta. Em uma jogada política, o primeiro-ministro convocou eleições antecipadas para julho e dissolveu o parlamento. O pleito estava inicialmente previsto para janeiro de 2025, mas Sunak pretende aproveitar o bom momento de estabilidade econômica para antecipar as eleições. Resta ver se ele conseguirá o apoio necessário para ser renomeado.
A China apresentou uma melhora em abril, com os lucros das empresas em alta, o crescimento das exportações e a demanda interna fortalecida, impulsionando a economia. O PBOC manteve as taxas de juros inalteradas: 3,45% para 1 ano e 3,95% para 5 anos. Para apoiar ainda mais a recuperação do mercado imobiliário, o Banco Popular da China criou um empréstimo de 41 bilhões de dólares em financiamento barato para ajudar as empresas estatais a comprarem casas não vendidas. Segundo a vicegovernadora do Banco Central, os fundos de reempréstimo serão estendidos a 21 provedores, incluindo bancos de políticas e bancos comerciais estatais, a uma taxa de 1,75%. Além disso, o governo flexibilizou, em três das maiores cidades da China, as exigências para a entrada dos compradores de imóveis, oferecendo taxas mais baixas e criando demanda. O FMI revisou a previsão de crescimento da China para 5%, elevando a estimativa anterior de 4,6%, com base na melhora da demanda e no suporte adicional para o setor imobiliário. No entanto, os dados de atividade de maio, divulgados no último dia do mês, vieram mais fracos, principalmente no setor de manufaturas, que apresentou contração após dois meses de recuperação, devido à queda de pedidos domésticos e de exportação, sinalizando fraqueza na demanda interna e externa. Vamos acompanhar de perto se as novas medidas adotadas pelo governo serão suficientes para fortalecer a economia ou apenas amortizar a queda.
O Banco do Japão confirmou a primeira atuação no mercado cambial desde 2022, vendendo 62 bilhões de dólares para defender a moeda, quando o iene atingiu a mínima de 160 USD/JPY, a mais baixa em 30 anos. Conforme mencionamos na última carta, a desvalorização do iene estava prevista para trazer problemas para toda a região. A inflação em maio acelerou, mantendo o cenário de aperto da política monetária para os próximos meses. Após reduzir a taxa de negativa para zero e intervir no mercado cambial, o BOJ está gradualmente desenhando um caminho de aperto monetário. A inflação, exceto os alimentos frescos, tem se mantido na meta de 2% por 25 meses consecutivos. O governo japonês comunicou que continua monitorando o mercado cambial e que flutuações excessivas são indesejáveis, buscando maior estabilidade refletindo os fundamentos. O Banco Central seguirá um caminho de aumentos graduais nas taxas de juros enquanto monitora os reflexos na economia, além disso pode diminuir a compra de títulos longos se a depreciação cambial continuar. Outro ponto a se citar é que a última atuação no câmbio ocorreu entre os níveis de 155 e 160 USD/JPY, com algumas intervenções pontuais dentro desse intervalo, sinalizando um ponto de defesa para a moeda.
No Brasil, o fato mais relevante foi a decisão do Copom de cortar os juros em 0,25%, para 10,50%, com um placar de 5 votos a favor de 0,25% e 4 votos a favor de 0,50%. Essa decisão gerou bastante ruído no mercado, especialmente porque todos os novos diretores do BC indicados pelo governo Lula votaram pelo corte de 0,50%. Isso levou o mercado a acreditar que a decisão foi mais política do que técnica, o que aumentou as incertezas em relação às futuras decisões do Banco Central após o término do mandato de Roberto Campos. Adicionalmente, a decisão do Presidente Lula de demitir o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, causou turbulência, com as ações da Petrobras caindo 10% no dia e o dólar atingindo novas máximas. As declarações do presidente do BC sobre a inflação estar desancorada e a busca pela meta de 3% estressaram os mercados ainda mais. Em contraponto, o ministro Haddad argumentou que a meta é quase inatingível e que as preocupações são infundadas, dado que a inflação corrente está baixa, ao redor de 3,70%, segundo o último IPCA. Todos esses eventos contribuíram para o pior fechamento do ano na bolsa, com o índice caindo para 122.100 pontos, o dólar fechando ao redor de R$ 5,25, e os juros futuros não indicando mais nenhuma queda da Selic para 2024, mantendo-se em 10,50%.
Nosso mês foi prejudicado, pois tínhamos montado opções de queda de juros até o patamar de 10,25% e não prevíamos que um Copom dividido em 5 votos a 4 manteria a Selic em 10,50% na reunião de 19/6/2024. Essa foi a principal perda do fundo, uma vez que a opção de queda de 0,25% para junho foi ajustada para 18, contra 59 no mês anterior. Não zeramos essa operação porque ainda acreditamos numa taxa terminal de 10,25%, principalmente porque a inflação corrente não demonstra aperto, mesmo com um mercado de trabalho apertado. A desancoragem das expectativas foi muito em função do ruído do Copom e do desastre no Rio Grande do Sul, que pode pressionar a inflação inicialmente, mas tende a se acomodar. Mesmo com a queda para 10,25%, a taxa de juros reais ainda ficará elevadíssima num cenário bem restritivo para ancorar a inflação, pois essa taxa terminal subiu na mediana de 9,25% para 10%. O cenário externo continua volátil, mas mostra novamente uma inflação no caminho da meta. O principal desafio no Brasil é o lado fiscal para 2025, pois os gastos estão subindo e a arrecadaçãovai chegar a um limite.
Nossa principal aposta está na próxima reunião do Copom. Se houver a queda, teremos um ganho substancial. Encerramos nossa posição comprada em dólar no final do mês. Temos uma pequena posição vendida em Euro, apostando que a Europa cortará os juros em junho. Também temos compra de iene, apostando na valorização dele, em função do BOJ estar no mercado. Estávamos posicionados no janeiro 26 para fazer hedge, mas estamos com posições pequenas para trading. Na bolsa, testamos a compra pelo nível. Enfim, nossa grande aposta está na reunião do Copom de junho. Torcemos para que nosso cenário se materialize e para termos, enfim, um mês mais positivo.