Carta do Gestor/Informativo Mensal Novembro de 2024

No evento mais importante do mês, as eleições americanas, Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, retornando à Casa Branca após vencer uma das disputas mais polarizadas da história. Enfrentando uma corrida marcada por sua condenação por crimes e sobrevivência a duas tentativas de assassinato, Trump conseguiu derrotar Kamala Harris com uma vitória nos sete swing states. Além disso, garantiu maioria tanto na Câmara quanto no Senado, evidenciando o descontentamento dos americanos com a gestão do atual presidente, Joe Biden.

Donald Trump já começou a montar sua equipe de governo, e uma das escolhas que mais chamou a atenção foi a de Scott Bessent para o cargo de Secretário do Tesouro, uma posição estratégica com grande influência sobre questões econômicas e regulatórias internacionais. Fiel à agenda “América em Primeiro Lugar”, alinhada ao pensamento do presidente eleito, Bessent possui uma sólida conexão com o mercado financeiro e tem defendido reformas fiscais e tributárias ambiciosas. Suas propostas visam estimular empréstimos bancários, impulsionar a produção de energia e expandir a exploração de petróleo e gás. O mercado financeiro vê sua nomeação com otimismo, esperando que ela possa suavizar a imposição de tarifas pesadas, uma das bandeiras centrais de Trump durante a campanha presidencial.

No início do mês, o Federal Reserve realizou mais um corte de 0,25% nas taxas de juros. No entanto, dados recentes sobre atividade econômica e inflação vieram mais robustos, levando vários dirigentes do FED a adotarem um tom mais cauteloso. Jerome Powell destacou que não há necessidade de acelerar os cortes nas taxas, ressaltando que, embora a inflação esteja se aproximando da meta, o progresso é irregular. Ele também afirmou que a economia está em bom desempenho, mas é crucial agir com prudência diante de um cenário ainda incerto. Além disso, acrescentou que é cedo para avaliar os impactos das políticas de Trump. Diante disso, analistas projetam a possibilidade de mais uma redução de 0,25% nas taxas de juros em dezembro.

A Europa enfrenta um período conturbado, marcado por baixo crescimento econômico e instabilidade política. Na França, persiste a incerteza em torno do orçamento para o próximo ano. Na Alemanha, o chanceler Olaf Scholz está sob forte pressão para convocar eleições antecipadas em janeiro. A vitória de Donald Trump aumentou as especulações sobre a implementação de tarifas comerciais na região, que podem reduzir o PIB alemão em até 1%, segundo estudos. Na França, após o impulso econômico gerado pelas Olimpíadas, a economia deve estagnar no quarto trimestre. O PMI composto da zona do euro caiu de 50 para 48,1, atingindo o menor nível em 10 meses. Em resposta, o Banco Central Europeu deve reduzir a taxa de juros para 3,5% em dezembro. A piora nos indicadores, combinada com a vitória de Trump, levou a uma desvalorização de 3% no euro em novembro. Além disso, novas reduções de juros são esperadas nas próximas reuniões para tentar reverter o cenário de fraco crescimento.

No Reino Unido, o Banco da Inglaterra reduziu a taxa de juros em 0,25%, para 4,75%. Membros do comitê indicaram que cortes adicionais serão graduais. Entretanto, o novo orçamento da chanceler Rachel Reeves, que inclui aumento de impostos sobre empregadores, trouxe cautela ao alívio dos custos de empréstimos. Se o imposto sobre a folha de pagamentos pressionar a inflação, o BOE pode ser forçado a manter as taxas de juros elevadas por mais tempo, prejudicando o crescimento econômico e as promessas do Partido Trabalhista. Lombardelli, integrante do comitê, adota uma visão mais conservadora, prevendo um cenário em que o crescimento dos salários desacelera para cerca de 3,5% a 4%, enquanto a inflação se estabiliza em torno de 3%, acima da meta de 2%. Se esse panorama se confirmar como o “novo normal”, a política monetária deverá permanecer mais restritiva, com juros elevados por um período prolongado.

Na China, o governo planeja reduzir impostos sobre a compra de imóveis como parte de um esforço fiscal mais amplo para revitalizar o mercado imobiliário. A iniciativa busca conter a queda nos preços e impulsionar as transações do setor. O Banco Central Chinês, conforme esperado, manteve as taxas de juros estáveis, após sinais recentes de estabilização econômica. Essa decisão segue uma série de medidas implementadas desde o final de setembro para colocar a economia nos trilhos e alcançar a meta anual de crescimento. Paralelamente, o governo chinês monitora de perto as movimentações de Donald Trump, preparando-se para eventuais novas tarifas comerciais.

No Japão, a inflação acelerou neste mês, impulsionada pela redução dos subsídios de energia pelo governo. Os preços ao consumidor, excluindo alimentos frescos, subiram 2,2% em novembro, superando os 1,8% registrados anteriormente e acima da expectativa de 2%. A inflação geral chegou a 2,6%, influenciada pelo aumento nos preços dos alimentos. Como os dados de Tóquio geralmente antecipam tendências nacionais, o Banco Central do Japão (BOJ) acompanha de perto a evolução inflacionária. Embora alguns economistas projetem uma elevação das taxas de juros em dezembro, acredito que o BOJ decidirá sobre o tema em janeiro, quando houver maior clareza sobre as políticas de Trump e seus potenciais impactos no comércio global.

O Brasil continua à deriva. Após um mês de expectativas em torno do pacote de cortes de gastos, esperava-se uma proposta robusta e concreta, mas o que veio foi um conjunto tímido de medidas. A principal delas foi a decisão de reajustar o salário-mínimo dentro da faixa estipulada pelo arcabouço fiscal (entre 0,6% e 2,5%). O governo estima uma economia de R$ 70 bilhões em dois anos, embora análises apontem para um impacto mais modesto, na ordem de R$ 40 bilhões. Boa parte das ações anunciadas consiste em revisões nos programas sociais, mas o mercado reagiu mal à promessa de isenção do imposto de renda para rendimentos até R$ 5.000,00, feita em campanha eleitoral — uma medida vista como irresponsável. A consequência imediata foi o dólar disparar para R$ 6,11, um recorde histórico. Atualmente, 46 milhões de brasileiros pagam imposto de renda, e a proposta reduziria esse número para apenas 10 milhões, isentando 78% dos contribuintes. Trata-se de uma medida populista que, sem contrapartidas de receitas claras, compromete a estabilidade fiscal. A situação só não foi pior devido ao posicionamento firme do presidente da Câmara e do Senado, que sinalizaram a rejeição da proposta sem medidas compensatórias. Ainda assim, o estrago já estava feito: as taxas de juros futuros para 2025 subiram para 15%, enquanto as projeções de inflação continuam desancoradas, com alta na inflação corrente.

Com a recente elevação do patamar do câmbio, projetamos que a inflação de 2025 ultrapasse os 5%. Esse cenário sugere que o estresse cambial deve persistir ao longo do próximo ano, com a taxa de juros alcançando 14% e o crescimento do PIB desacelerando para uma faixa entre 1,5% e 2%. Esses indicadores revelam a falta de capacidade do governo em apresentar medidas sólidas e coerentes para estabilizar o ambiente econômico.

Nosso desempenho no mês foi negativo devido à nossa posição na bolsa, baseada na expectativa de que ela era o ativo mais descontado para capturar os ganhos de um eventual pacote decente. No entanto, com os rumores de uma possível isenção do imposto de renda, decidimos zerar nossa posição antes mesmo do anúncio oficial, para evitar maiores perdas. Nos demais mercados — dólar, juros e bolsa americana — seguimos com operações de trading, mas sem posições estruturais, priorizando a preservação de capital em um ano marcado por sucessivos desajustes e surpresas negativas.

Apesar do crescimento de 3% da economia, o cenário permanece frágil. Esse desempenho está sustentado, em grande parte, por gastos federais, um modelo insustentável que já sinaliza uma desaceleração significativa da atividade econômica. Esse movimento tende a impactar negativamente todos os setores, incluindo o mercado de trabalho, ampliando a fragilidade estrutural do país. Nesse contexto, projetamos inflação elevada, juros em patamares altos e um câmbio ainda mais desvalorizado. Diante da volatilidade e das incertezas, seguimos para dezembro com posições zeradas, refletindo os desdobramentos mais recentes.

A grande questão é se o governo conseguirá implementar medidas para reverter esse quadro ou se estamos diante de um “novo normal”, marcado por desequilíbrios econômicos e vulnerabilidade. Se o melhor realmente está reservado para o final, que dezembro seja um bom mês!