Carta do Gestor/Informativo Mensal Setembro de 2023
- Carta do gestor
- 1 de outubro de 2023
Setembro foi o pior mês do ano para os mercados, no qual se acumularam diversos fatores adversos, tais como a necessidade de financiamento do tesouro americano, um forte aumento do petróleo e a percepção de que os bancos centrais, incluindo o FED, manterão os juros elevados por mais tempo para controlar as pressões inflacionárias. Essas circunstâncias conduziram as bolsas ao redor do globo a fecharem com perdas: o S&P 500 caiu 4,87%, o Nasdaq recuou 5,80%, o DAX depreciouse 2,70% e o Nikkei declinou 2,3%.
O FED proferiu um discurso hawkish em sua reunião, manteve a taxa inalterada entre 5,25% e 5,5%, mas sinalizou a possibilidade de implementar mais uma alta até o final do ano, uma vez que o mercado de trabalho continua apertado, apesar de um pouco mais equilibrado, e a atividade econômica superar as expectativas. Com isso, o Banco Central Americano ajustou a projeção de juros, denominada dots, para os anos de 2024 e 2025, indicando uma manutenção por um período prolongado.
Essa postura elevou a curva de juros americana, especialmente a de longo prazo de 10 anos, que atingiu 4,68%, a maior taxa em 15 anos. Outra notícia desagradável foi a disputa política nos Estados Unidos, que pode causar um shutdown do governo americano (paralisação de diversos setores do governo), prejudicando a atividade econômica. Para concluir, os americanos enfrentam a greve das montadoras. O sindicato dos trabalhadores reivindica um aumento de 40%, enquanto as companhias oferecem 20%. Um acordo deve ser alcançado em breve, mas isso cria um precedente para novos aumentos em outras categorias, o que pode impactar a inflação. Enfim, um mês repleto de más notícias.
O Banco Central Europeu elevou a taxa de juros para 4,00%, marcando o décimo aumento consecutivo nas taxas de juros na zona do Euro, que atingiram o maior nível da história. Indicou que permanecerá ‘dependente de dados’, mas existe uma inclinação para fazer uma pausa e manter a taxa por um período prolongado, assim como o FED. Em seu discurso, a presidente do BCE não confirmou o fim do ciclo, mas o colegiado sustenta a visão de que manter a taxa por um período suficientemente longo contribuirá para o retorno da inflação. A decisão não foi unânime, embora exista uma sólida maioria; alguns preferiam a manutenção, dado que já se observa uma desaceleração significativa da atividade econômica. O PIB foi revisado para um crescimento de 0,70%, contra os 0,90% anteriores, e para 2024 de 1,50% para 1%. A boa notícia foi o recuo do CPI de 5,20% para 4,30%, e o núcleo recuou de 5,30% para 4,50%, aumentando a chance de não se elevarem mais os juros na zona do euro.
O Reino Unido, em uma decisão apertada, lembrando a do Copom, manteve a taxa de juros em 5,25% por um placar de 5 a 4. A taxa persiste em seu maior nível desde 2008. Há preocupação, visto que os 14 aumentos consecutivos na taxa para combater a inflação continuam a ser bastante prejudiciais para a atividade econômica. Contudo, o BOE manteve o discurso dos bancos centrais, afirmando que deixará a política monetária restritiva por um longo período. A inflação caiu de forma inesperada, apesar do aumento dos combustíveis, ficando em 6,70% contra os 7% previstos. A principal queda deu-se no núcleo, que foi de 7% esperado para 6,20%, comparado a 6,9% do mês anterior. Esses dados corroboraram a divisão na decisão de juros do Banco Central da Inglaterra.
A China continua enfrentando desafios em sua economia. O setor de serviços tem mostrado melhora, com os consumidores gastando mais em viagens e alimentação fora de casa, mas essa recuperação é insuficiente para melhorar o ânimo do mercado, que permanece bastante negativo em relação à sua economia. Tanto é que a agência de risco S&P revisou o crescimento de 5,20% para 4,80%. O setor imobiliário, por outro lado, continua fraco, principalmente devido ao não pagamento dos bonds pela Evergrande. Além disso, a confiança das famílias, o alto desemprego entre os jovens e a relação conturbada com os Estados Unidos agravam a situação econômica. Alguns dados têm apresentado melhoras, como a produção industrial. E, com algumas medidas, como o alívio nas restrições de compra de imóveis, observou-se algum impulso nas grandes cidades com as iniciativas de flexibilização, mas estas estão perdendo destaque, graças a fraqueza do setor imobiliário que é responsável por um terço do PIB.
Carta Mensal setembro/2023 RC Hedge FIM setembro-23 Moedas 0,06% Bolsa 0,24% Juros -0,99% Taxas e Custos -0,17% Título Público 0,94% Total 0,08% RC Plus FIM setembro-23 Moedas -0,73% Bolsa -0,18% Juros -1,88% Taxas e Custos 0,00% Título Público 0,92% Total -1,87% Matera RC FIM setembro-23 Moedas -0,10% Bolsa 0,12% Juros -0,46% Taxas e Custos -0,07% Título Público 0,93% Total 0,42% Atribuição de Performance O CDI no mês de setembro de 2023 foi de 0,97% Não foi desta vez que o Japão apertou sua política monetária ultra acomodatícia; ao contrário de todos os bancos centrais do mundo, prometeu adicionar estímulos, se necessário. No entanto, tal discurso parece mais uma retórica do que uma verdadeira intenção. Kazuo Ueda, governador do Banco do Japão, afirmou que considera o fim do mecanismo de controle da curva de juros tão logo a inflação seja alcançada de maneira convincente, não oferecendo pistas sobre quando a política poderá mudar. Quanto aos movimentos do iene, mencionou que tem observado com cuidado e acredita que a moeda deve responder aos fundamentos econômicos.
O Banco Central do Brasil reduziu a taxa para 12,75%, movimento este amplamente esperado pelo mercado, e indicou que vai prosseguir com a mesma magnitude de corte nas próximas reuniões. Uma eventual aceleração na magnitude do corte depende da melhora da inflação. O BC também fez menção à importância de cumprir a meta fiscal para controlar as expectativas de inflação. O discurso do Banco Central salientou que o total do ciclo de flexibilização dependerá da evolução da dinâmica inflacionária de maior prazo, da ociosidade da economia refletindo na atividade econômica e do balanço de riscos. A abertura das taxas americanas de 10 anos acabou causando um realinhamento da taxa terminal da Selic, antes estimada entre 8,50% e 9,00% no final de 2024, para algo em torno de 10,50%, abalando o mercado de juros e NTN B, papel indexado ao cupom de juro real, onde saímos de 5,40% para 5,80% para 2035. Essa abertura abalou a bolsa. Além disso, a Treasury afetou as bolsas no mundo todo e causou o fortalecimento do dólar. A piora do clima político no Brasil, os boatos de mudança de meta fiscal durante o mês e a queda da arrecadação, com números piores que o esperado, dificultam o alcance da meta fiscal de zero para 2024. O mercado já trabalha com projeções de -0,50% a -0,75%, mas isso depende muito do que for aprovado no Congresso. Com isso, houve uma piora no quadro doméstico.
No mês de setembro, tivemos perda nas opções de juros para dezembro, nas quais apostamos em aceleração. Contudo, com essa abertura de juros do mercado externo, esse cenário ficou mais distante. Na posição comprada em bolsa, interrompemos a compra, visto que já temos juros. Mantemos nossa posição a favor do iene, mas tivemos perdas devido ao fortalecimento do dólar mundial. Todavia, acreditamos estar muito próximo de uma intervenção pelo tesouro japonês, sobretudo em função do nível atual da moeda, que está em 149,50. Obtivemos lucro nas posições compradas em dólar e vendidas na bolsa americana, mas estas foram encerradas.
Foi um mês difícil, com uma mudança de humor muito rápida por parte dos agentes. Acreditamos que o Brasil será penalizado caso o cenário externo se materialize para o pior, com uma desaceleração do crescimento e uma possível recessão americana em 2024. O Brasil será testado se não fizer um corte de gastos ou não conseguir a aprovação das medidas arrecadatórias pelo Congresso. Enfim, serão meses desafiadores à frente.