Carta do Gestor/Informativo Mensal Setembro de 2024
- Carta do gestor
- 7 de outubro de 2024
O principal evento em setembro foi a redução da taxa de juros dos Estados Unidos, a primeira desde 2020, e, para surpresa de alguns economistas, ocorreu em uma magnitude de 0,50%, com base nos dados de emprego que apontam um esfriamento do mercado de trabalho. Com relação ao impacto dessa redução, o Fed afirmou que se sentiu mais confiante para iniciar o ciclo com um corte de 0,50% visando manter a economia sólida, mas não se comprometeu com os próximos passos. Durante a apresentação, os chamados “dots” sinalizaram dois cortes de 0,25% em 2024 e uma queda adicional de 100 bps para 2025, demonstrando cautela, mas expressaram confiança na trajetória da inflação e reafirmaram o compromisso firme em apoiar o máximo emprego. Diante desse cenário, o mercado entendeu que, caso a fraqueza do emprego persista, esse ciclo pode ganhar velocidade com outros cortes de 0,50%, atingindo a taxa final em 2025, de 3,40%, mais rapidamente, para evitar o enfraquecimento da economia. Dessa forma, os mercados, durante a entrevista sofreram com a queda, porém, após a releitura do comunicado, no dia seguinte, as bolsas americanas passaram a atingir novas máxima. O PCE, que foi divulgado no final do mês, confirmou que a inflação está sob controle; o PCE core apresentou resultado abaixo do esperado, sinalizando que as pressões inflacionárias estão se dissipando e que os EUA estão no caminho do “soft landing”.
Em relação à Europa, o Banco Central Europeu cortou a taxa de juros em 0,25%, reduzindo para 3,50%, conforme amplamente esperado pelos agentes. No entanto, não se comprometeu com datas para novos cortes. O BCE também afirmou que a inflação continua contida em torno da meta de 2,2% para 2025 e projeta que atingirá 2% no segundo semestre de 2025. Por outro lado, o crescimento foi revisado para baixo, ficando em 0,8%, e a inflação ainda não atingiu a meta, pois os salários continuam a subir em ritmo elevado. Contudo, essas pressões de custo de mão de obra estão diminuindo gradualmente. Diante desse cenário, a política monetária demanda uma abordagem cautelosa; ainda assim, os agentes antecipam outro corte de juros no último trimestre.
O presidente do Banco Central da Alemanha afirmou que a indústria ainda sofre com a fraca demanda externa, o que gera risco de queda na atividade econômica, podendo o país até enfrentar uma leve recessão. Além disso, destacou que o mercado de trabalho não apresentou melhorias devido à falta de recuperação econômica, e que a lenta diminuição da pressão salarial vem dificultando o processo de desinflação no país. Após os estímulos do Banco Popular da China, as bolsas europeias reagiram positivamente e atingiram máximas históricas, considerando que a China é um grande parceiro comercial da Alemanha.
O Banco Central da Inglaterra optou por manter a taxa de juros em 5%, mesmo com a inflação recuando para 2,2%. Segundo o comitê, prefere-se manter as taxas elevadas e restritivas por mais tempo e, posteriormente, cortá-las de forma mais agressiva, até que as incertezas inflacionárias se dissipem. Fatores estruturais, como as negociações salariais, os preços dos produtos e os efeitos colaterais de outras economias, podem impedir que o BOE consiga manter a inflação baixa. Além disso, outra avaliação é que a taxa de juros neutra é maior do que os modelos sugerem, sendo mais um motivo para adotar uma postura paciente quanto à redução de juros. Nesse sentido, o endividamento do governo britânico foi maior do que o previsto nos cinco primeiros meses do ano fiscal, mantendo a pressão para um possível aumento de impostos e equilibrar as contas, mas esse ajuste impõe um viés negativo ao crescimento. Contudo, Starmer não deseja adotar medidas que prejudiquem o crescimento, pois essa é a prioridade de seu governo.
Já na Ásia, o Banco do Japão decidiu manter as taxas de juros inalteradas, mas comunicou que continuará a aumentar os juros se a economia e os preços evoluírem conforme as projeções, e que está monitorando a inflação de serviços, as negociações salariais e a retomada dos gastos dos consumidores. Nesse contexto, o banco enfatizou que manterá uma comunicação estreita com o mercado para evitar a volatilidade observada durante o primeiro aumento dos ativos. Entretanto, a moeda reagiu à manutenção, voltando ao patamar de iene 144, após ter atingido a mínima de iene 139,5, devido à queda das taxas de juros maior do que o esperado pelo Fed.
Por sua vez, o Banco Popular da China, autoridade monetária do país, lançou um pacote de estímulos mais significativo desde a pandemia, na tentativa de aquecer a segunda maior economia do mundo. O banco reduziu sua taxa de juros de referência e anunciou apoio aos mercados imobiliário e de ações, além de cortes no compulsório bancário, na taxa de recompra reversa de sete dias e na taxa de hipoteca existente. Essas medidas foram adotadas devido à projeção de que a economia não atingirá a meta de crescimento desejada pelo governo, de 5%, neste ano.
Contrariando a tendência global, no Brasil, o Banco Central decidiu elevar a taxa de juros em 0,25%, juntamente com um comunicado mais rigoroso, dando início a um ciclo de alta e corroborando as significativas revisões nas projeções de inflação e atividade. O BC ressaltou que o hiato do produto se tornou positivo, que não há mais ociosidade na economia e, com isso, há maior resiliência na inflação de serviços. Além disso, mesmo com a queda dos juros americanos, o ambiente externo permanece desafiador, refletindo dúvidas sobre o ritmo da desinflação, mesmo com a desaceleração da atividade. Internamente, no balanço de risco, o cenário mudou para uma perspectiva de riscos assimétricos altistas, e agora a atividade econômica assumiu um peso mais relevante. Os próximos passos estão relacionados ao processo de ancoragem das expectativas de inflação e a dinâmica da inflação. Diante desse cenário, o mercado já projeta uma taxa de 11,75% para dezembro de 2024, e um ciclo final entre 12% e 12,50%.
Quanto ao nosso desempenho, obtivemos ganhos em dólar e iene. Porém, não assumimos grandes posições no mês, ficando de fora de juros e ações. Estamos pessimistas em relação ao cenário fiscal brasileiro e aguardamos uma oportunidade de preço para montar posição em dólar. Atualmente, observamos uma arbitragem por parte dos investidores estrangeiros, que estão vendendo dólares devido ao aumento do diferencial de juros entre o Brasil e outros mercados. Além disso, o governo precisa sinalizar um corte de gastos para demonstrar ao mercado sua preocupação com a evolução da dívida, evitando questionamentos futuros, especialmente após o relatório da fazenda indicar que a relação dívida/PIB poderá atingir 82% até 2026.
Mantemos nosso comprometimento em voltar a “subir a montanha”, mas ressaltamos que será de forma gradual, pois 70% a 80% da perda deste ano foi devido a uma operação específica em opções de juros. Assim, é necessário ter calma e paciência, pois novas oportunidades surgirão.